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Amostras de duas bandas de panos d'obra bicho executados por mim, passagem a passagem. |
"A Industria fabril nas Ilhas de Cabo Verde está muito atraz da rural, e pouco além da que se encontra entre os povos do Sertão de Africa: a unica manufactura que exportam são pannos, de mais ou menos preço, de padrões variados, alguns de bom gosto, e deles entretecidos com lã e retroz, o que os faz custosos; mas são compostos de bandas cozidas de um pé de largo, como os dos Jalofos, Fulos, e Mandingas, por serem como os delles tecidos em teares improvisados de pedaços de cannas, que acabada a obra se desmancham e lançam á rua: há comtudo a admirar nestes tecidos: 1.o o bem que fiam o algodão em fino, ou em grosso: 2.o o bem que o tingem – de preto, ou de azul – ou de azul e branco – com o anil que colhem no campo, e pisando as folhas até o reduzir a massa, desta fazem pelouros que secam ao Sol – e depois dissolvendo-os em tinas d’agoa com cinza de bananeira, assim preparam a tinta em que mergulham o fio (tudo isto são processos Mandingas): 3.o a igualdade do tecido em tão maus teares, e a perfeição com que nos de maior preço executam bonitos lavores, ou do mesmo algodão, ou de lã, ou de retroz. Já se vê pois, que se houvesse quem aproveitasse tanta habilidade sobre bons teares europêos, se poderia levar á perfeição, e a menos custo, tanto esta manufactura dos pannos que na Africa se consomem, como a das lindas colxas, que começam a ser prezadas na Europa."
in Ensaios sobre a statistica das possessões Portuguesas na Africa Occidental e Oriental; na Asia Occidental; na China, e na Oceania, de José Joaquim Lopes de Lima. Imprensa Nacional, 1844 (p. 35; o negrito é nosso.)
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Faixa de pano d'obra bicho ainda no tear. |
"Os pannos, tecidos e colxas attraem a admiração de todos os viajantes, por bem feitas, côres vivas e lindos lavoures: porém sobre tudo pela maneira por que são fabricados. Fiam para esse fim muito bem o algodão, em grosso ou em fino, [...]. O tear é composto de pedaços de canna, juncos e páosinhos, attados com cordas de bananeira: e é junto de um tal apparelho, que assentado um negro, muitas vezes escravo, sem modelo algum, fabrica um tecido, que avidamente compram os Francezes, Inglezes e Americanos, chegando a dar por alguns o alto preço de 40$ rs. O tear acabada a obra, é desmanchado e serve para lenha. Estes pannos são d'algodão só, ou misturado com lã, ou seda. Compõem-se de seis ou mais bandas d'um pé de largura sobre seis seis ou oito de cumprimento: cozidas umas ás outras pelas ourelas, conforme á largura do panno que se quer ter. [...].
Estes pannos constituem o vestuario do sexo feminino na provincia; vão exportados em considerável porção para a costa de Guiné, aonde e mesmo na Ilha de S. Antão, tem um valor de moeda corrente; a ponto que ainda ha poucos annos, n'esta ultima recebia o Governo n'este genero a importancia dos dizimos."
in Corografia Cabo-Verdiana (Tomo II), de José Conrado Carlos de Chelmicki e Francisco Adolfo de Varnhagen. Tipografia de L. C. da Cunha. Lisboa, 1841 (pp. 8-9; o negrito é nosso.)
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Faixa de pano d'obra bicho ainda no tear. |
"These cloths are more or less expensive, according to the various patterns. Some are very beautiful, and tastefully got up. The cheaper kinds are mixed with wool, while the more expensive are interwoven with silk into various patterns (for scarfs) of about a foot broad, which are sewed together like jalofes, fules and mandingas, so called from being woven in the same description of temporary looms as are in use among those people. These machines are formed of pieces of cane ingeniously put together; and, when they have accomplished their task, they are thrown away. Notwithstanding the simplicity of their construction, the beauty of the various patterns which they produce is most remarkable.
In Europe there is an increasing demand for the beautiful counterpanes manufactured by the islanders."
in Six Years of a Traveler's Life in Western Africa (Vol. I), de Francisco Travassos Valdez. Hurst and Blackett Publishers. London, 1861 (p. 111; o negrito é nosso.)
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